Este ano peguei uma das turmas mais difíceis com as quais já trabalhei. São crianças tão carentes e perturbadas que o trabalho é realmente dobrado, e algumas vezes, infelizmente, parece inútil no meio de tanta confusão mental que esses pequenos vivem.
Algumas das crianças são difíceis de lidar. É muito frequente ver monitoras e funcionárias aos gritos, pegando crianças pelo braço bruscamente e dando umas broncas que até eu tenho medo! O M. é uma dessas crianças. Além de perder a atenção constantemente, ele lida com pequenas frustrações aos gritos, choros e bastante violência.
Hoje, quando cheguei pra buscá-los na sala, o M. estava sentado em um canto da secretaria, de castigo, e qualquer movimento dele gerava um grito da secretária. A professora me pediu pra decidir se ele iria pra aula ou não.
- Eu vou deixar ele ir - Eu disse, mentalmente dizendo - É claro que ele vai! É um direito dele... não sou prêmio e nem castigo.
E chamei o M. Claro que conversei com ele antes, disse que ele precisava ficar bonzinho e tudo mais... e ele mesmo sabia que se não ficasse, seria pior pra ele.
Já na primeira brincadeira, todo mundo se divertindo, menos o M. Ele estava tão ansioso que não conseguia participar. E não demorou muito pra sair aos gritos e chorando alto. Foi pra trás de um pilar e lá ficou. Enquanto isso, eu fiquei maquinando uma forma de fazer esse pobre coitado ter algum sucesso, qualquer um que fosse, contrariando tudo que ele tinha passado naquele dia...
Mas... pra o azar do coitado, bem nessa hora a secretária veio me passar um recado. Viu o M. em seu pequeno "chilique". Antes que eu pudesse reagir ela o pegou pelo braço e o levou à força novamente pro seu cantinho na secretaria. A coordenadora apareceu pra ajudar na operação e aí é que eu fiquei sem voz, de vez.
E pronto, lá se foi o coitado, cumprir seu castigo sem motivo... por não ter aprendido o que ninguém ensinou, por não ter entendido o que ninguém explicou e por ser nada mais nada menos do que uma simples criança confusa, perturbada e negligenciada.
Nessas horas, a impotência é o que mais dói. Felizmente ou infelizmente, por necessidade estou aprendendo a lidar com ela...